Hipermobilidade articular (frouxidão/elasticidade) pode representar o extremo do espectro normal da amplitude de movimento ou condição para um grupo de desordens hereditárias do tecido conjuntivo, que afeta a formação do colágeno e predispõe a afecções musculoesqueléticas e extraesqueléticas, que raramente é compreendida pelos profissionais, erroneamente considerada como habilidade inofensiva e para esta a causa é desconhecida e não há cura, porém as afecções secundárias à ela, na maioria, podem ser tratadas.
É relativamente comum, ocorre entre 2% a 57% nas diferentes populações, é facilmente identificada e tratada na infância. Em idade escolar tem frequência entre 8 a 39% e encontrada em 41% das crianças e adolescentes. Ela poderá predispor a acometimentos articulares graves ao longo dos ciclos da vida, desde a infância, com rápida evolução para desvios na coluna vertebral, dos joelhos, quadril, pés, cotovelos, punhos e dedos, incluindo a face e com deformidades na arcada dentária.
Manifesta-se em ambos os sexos, com maior frequência nas mulheres e maior acomemetimento em asiáticos e africanos. Raramente a HA é identificada em função do desconhecimento, sendo negligenciada, subdiagnosticada e considerada pela maioria dos profissionais como habilidade inofensiva, não valorizando a fragilidade dos tecidos.
Não há exames complementares, como testes genéticos, exames de imagens ou outros laboratoriais para identificá-la. Profissionais de saúde experientes e com conhecimento científico atualizado em Hipermobilidade e características associadas poderá realizar o teste físico-clínico e histórico, assim como investigar outras manifestações associadas principalmente aquelas associadas à Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel (SEDh). Porém, na mesma proporção é a responsabilidade para os encaminhamentos e para os tratamentos. Alguns profissionais identificam a HA e algumas outras manifestações, porém não fazem os encaminhamentos devidos ou encaminham para tratamentos convencionais de assistência fisioterapêutica ou para academias, mudando o curso da história desses pacientes e familiares, que os fazem, na maioria das vezes com afecções crônicas ou deficiências já instaladas.
A HA é definida pelo escore de Beighton e recentemente foram criados os Transtornos do Espectro de Hipermovilidade (TEH) para reconhecer a continuidade da HA quando assintomática ou sintomática, sua localização como periférica, localizada ou generalizada e seu histórico. Portanto, valoriza-se a HA mesmo que seja uma característica isolada. Ex: “apenas” nos joelhos!!!!
O indivíduo poderá ter hipermobilidade articular e não apresentar outras manifestações, porém o fato da presença da HA já sugere, no mínimo, a avaliação cinesiofuncional específica para a característica ao longo dos ciclos da vida.
A assistência, em sua maioria, é multiprofissional, dependentemente das manifestações identificadas ou esperadas e seus respectivos encaminhamentos precoces.
A avaliação e a assistência fisioterapêutica são essenciais e assim reconhecidas pela literatura científica, em função de suas maiores implicações ocorrerem nos membros superiores, inferiores e na coluna vertebral, sendo que, há método fisioterapêutico próprio tanto para a avaliação como para o tratamento das consequências da HA, que para a maioria há prevenção, ou seja, não deixar que se instalem e para aquelas já instaladas, será possível amenizá-las e algumas terão recurso terapêutico específico para recuperção na íntegra.
A falta de tratamento especializado poderá levar a deficiências físicas irreversíveis. Portanto, é necessário que um profissional de saúde com essa experiência faça a gestão do paciente e/ou da família ao longo do tempo e assuma os riscos.
O ideal é que o tratamento ocorra durante a infância até a adolescência, antes que se finalize o Estirão do Crescimento em Estatura, porém em todas as faixas etárias há intervenções para cuidados de ordem física, orgânica e emocional.
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